ColunistasFrei Marcos Sassatelli, op

O Ser humano histórico-individual (3)

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

(Continua a série de artigos sobre o Ser humano)

Para o Ser humano histórico, “ser-no-mundo” individualmente, significa ainda “ser-no-mundo” espiritualmente ou pessoalmente (como Ser humano espiritual ou pessoal).

A dimensão da “espiritualidade” ou “pessoalidade” é constitutiva da individualidade humana. O Ser humano individual “é-no-espírito”, “é-espírito” (“é-pessoa”). É espírito (pessoa) individual ou indivíduo espiritual (pessoal). 

A terceira (sempre no sentido lógico e não cronológico) experiência existencial (concreta) que o Ser humano individual (o indivíduo) faz de si mesmo é a percepção de sua espiritualidade ou pessoalidade

A palavra “espírito” (ruah, pneuma) significa o Ser humano individual todo enquanto ser espiritual ou pessoal (consciente, racional, pensante, relacional). Quando se diz que o Ser humano individual é espírito ou pessoa, o sujeito é sempre o Ser humano individual todo, mas a ênfase (o destaque) é colocada na sua espiritualidade ou pessoalidade (consciência, racionalidade, pensamento, relacionalidade). 

De fato, aprofundando ainda mais nossa reflexão sobre um Ser humano individual concreto, constata-se que o indivíduo todo (e não uma parte dele) – além de corpo e vida (bio-psique) – é espírito ou pessoa (subjetividade consciente, razão pensante, relação). O Ser humano individual “é integralmente espírito” (MOUNIER, E. O Personalismo. Livraria Morais, Lisboa, 19642, p. 39). 

“O universo da pessoa é o universo do Ser humano individual” (Ib., p. l6). 

 A espiritualidade ou pessoalidade – como a corporeidade e a bio-psiquicidade – diz respeito ao Ser humano individual todo (integral), mas não é a totalidade do Ser humano individual.

O Ser humano individual, como espírito ou pessoa, “não é um objeto. Antes, é exatamente aquilo que em cada Ser humano individual não é passível de ser tratado como objeto. (…) A pessoa não é o mais maravilhoso objeto do mundo, objeto que conhecêssemos de fora, como todos os outros. É a única realidade que conhecemos e que, simultaneamente, construímos de dentro. Sempre presente, nunca se nos oferece. (…) A pessoa não é um objeto que se separe e se observe, mas um centro de reorientação do universo objetivo” (Ib., p. 18, 19, 35).  

Dizer que o Ser humano individual é espírito ou pessoa significa dizer que o Ser humano individual existe (é) como sujeito, único, irrepetível e inconfundível; como “alguém”, como um “eu” frente (face) a um “tu”: o outro (semelhante) e/ou o Outro absoluto (Deus). Destaca-se a intersubjetividade das pessoas, o encontro (a relação, a comunicação, a comunhão) interpessoal.

“O sujeito é, desde a sua gênese primeira, uma comunhão e a palavra um diálogo” (VAZ, H. C. de Lima. Ontologia e História. Duas Cidades, 1968, p. 275). 

“Sem interlocutor, o Ser humano individual é impensável como ‘sujeito’ – como Ser humano individual” (Ib., p. 277, nota 7). 

A ideia de espírito indica em primeiro lugar a unicidade e a alteridade dos sujeitos ou das pessoas. 

O Ser humano individual (ou o indivíduo singular) existe (é) como pessoa concreta, que pensa, quer, fala, age, etc. Pensar, querer, falar, agir, etc. são modos de ser do sujeito pessoal (veremos isso falando do Ser humano como Práxis). O outro aparece como outro, como sujeito (único, irrepetível, inconfundível), como pessoa, como alguém exterior a mim, que está diante de mim e não se identifica comigo. 

“A experiência do outro (e – eu digo também – do Outro absoluto ou Deus) é uma experiência originária, que revela, portanto, uma dimensão do Ser humano individual absolutamente irredutível à relação com o mundo material e vivente. Porquanto eu possa multiplicar os meus conhecimentos objetivos, aplicando-os ao outro Ser humano individual, nunca poderei captar sua alteridade: o outro como tu diante de mim se subtrai a toda conceituação e objetivação” (GEVAERT, J. Il Problema dell’Uomo. Introduzione all’Antropologia filosofica. Elle Di Ci, 19814, p. 113). 

O outro é presente numa experiência imediata. “O imediato é o frente a frente” (LEVINAS, E. Totalidade e Infinito. Edições 70, Lisboa, 1988, p. 39). 

“Se experiência significa precisamente relação com o absolutamente (totalmente) outro – isto é, com aquilo que extravasa sempre o pensamento – a relação com o Infinito (o Outro absoluto) completa a experiência por excelência” (Ib., p. 13).  

(No próximo artigo continuaremos as nossas reflexões, mostrando que – o Ser humano histórico-individual – corpóreo, biopsíquico e espiritual ou pessoal – “é-no-mundo” sexuadamente).

Compartilhando:

Para uma visão mais aprofundada e abrangente dos temas tratados, leia o meu livro: Ética da Libertação. Uma abordagem filosófico-teológica. Lutas Anticapital, Marília – SP, 2023 (pág. 384).

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

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 Goiânia, 05 de junho de 2024  

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